domingo, 7 de setembro de 2008

Independência pessoal

Muitas pessoas vivem suas vidas numa mera sucessão de dias. Não percebem que alguma rotina não é boa ou que poderiam viver melhor em algum setor pessoal. Às vezes, até reclamam que estão fazendo algo demais e que preferiam fazê-lo menos vezes, mas não mudam de atitude.
Na prática, tudo continua igual. As atitudes não mudam e, conseqüentemente, os problemas também não. E, para essas pessoas, os anos passarão e, quando se derem conta dos erros cometidos, já será tarde demais.
Acredito que todo mundo quer o melhor para si. Também creio que quem erra em prejuízo próprio o faz por desconhecimento de causa. Por isso, resolvi aproveitar o Dia da Independência do Brasil para escrever um texto que auxilie a independência pessoal.

Vamos começar pela independência financeira.
Tem gente que não sabe viver dentro dos seus limites financeiros. Faz crediários que sufocam ou ultrapassam o orçamento, enche o cartão de crédito de prestações, avança no limite do cheque especial e vive no vermelho. São pessoas que compram porque acham que precisam de algo naquele instante, que não podem continuar vivendo sem determinada coisa e, principalmente, não podem esperar juntar o dinheiro primeiro e comprar depois.
Há muitos que compram, compram e compram sem precisar, sem ter mais aonde enfiar tanta coisa em suas casas, coisas que certamente não precisam. Mas continuam a comprar. Comprar é como um vício, uma necessidade. É preciso ter sempre mais e mais. Ter o último modelo disto, o último lançamento daquilo, o não-sei-o-quê que está na moda...
É sempre assim: o top de linha de hoje já está ultrapassado amanhã e, quem se sente na necessidade de acompanhar o mercado, corre comprar o mais recente. É comprar, comprar e, depois, comprar. Não que comprar seja ruim. Não é isso. Adquirir coisas úteis é bom, facilita a vida, pode ser divertido, mas, o que não se pode fazer, é ter as compras como foco central. Comprar deve ser parte da vida e não o objetivo dela. E, como as demais partes da vida, a compra precisa ser planejada. Não se deve gastar mais do que se recebe. Por isso, se este mês você não tem dinheiro para comprar algo, não arranje uma dívida. Espere mais um pouco. Compre quando puder, sem ser levado por influência externas (propaganda, modismo, influência dos amigos que tem e você ainda não). Sem afundar em dívidas, você se mostrará responsável e poderá dizer que você é independente financeiramente, pois gasta apenas o que ganha. Se conseguir guardar algum dinheiro, melhor ainda! E isso será mais um motivo de satisfação pessoal!

Vamos falar um pouco da independência tecnológica.
Tem gente que tem compulsão por tela e só sabe se divertir se for em frente de uma. São pessoas que só encontram distração se for vendo televisão (principalmente quando é TV a cabo), jogando video-game, jogos de computador, navegando na internet, etc. Parece que a vida dessas pessoas se resume a estar atrás de uma tela. Não saem com os amigos, não lêem um livro, não praticam esporte. Não que eu tenha algo contra telas, não é isso. Afinal, estou atrás de uma, não é mesmo? Mas a diferença está na quantidade de tempo passado atrás dela. É preciso moderação, saber dosar o tempo empregue nessa forma de lazer e dividir com outras. Não dizem que o mal do século é a vida sedentária? Pois quem vive atrás de uma tela não pratica esporte. Você pode até dizer: "Mas tem aqueles jogos de dançar em o controle é um tapetinho". Sim, tem mesmo. Mas quantos viciados em tela o usam? E essa atividade realmente é a ideal? Pois esse é o problema do excesso de tela: falta de atividade física. Isso sem falar na falta de convívio social. Porque amigo virtual é bom, mas não substitui os de carne e osso.
Por todos esses motivos, é preciso saber medir o tempo empregue atrás de uma tela, dividindo-o com outras áreas de interesse. Seja você quem está no comando da tela!
Outro motivo de dependência tecnológica da atualidade é o celular. Começou com o telefone fixo. Principalmente para as mães de jovens desregrados, as contas telefônicas passaram a refletir as horas empregadas atrás do aparelho. Com o celular, tenho observado que o problema das contas caras atingiu outras faixas etárias. Já ouvi muito adulto (35-45) reclamando que não sabe como a sua conta está caríssima, novamente. Acho que o motivo número um chama-se papo-furado. As pessoas usam o celular para conversar sobre fofocas ou amenidades. Se utilizassem somente para emergências e recados importantes, isso não aconteceria. Quer ter uma conversa mais longa? Marque um encontro. Além de ser mais prazeroso, é mais econômico. A pessoa mora longe? Ligue no domingo, que a tarifa é mais barata ou mande uma carta, que é mais em conta ainda.
Não podemos criar dependência aos aparelhos. Os avanços tecnológicos criam uma enorme quantidade de coisas interessantes todos os dias. Precisamos utilizar os aparelhos ao nosso favor, sem nos deixar escravizar pelas máquinas. Os equipamentos devem diminuir distâncias, proporcionar conforto e diversão. Não devem nos privar de vivermos a vida, de cuidarmos de nós mesmos e daqueles que nos são importantes. Por isso, use a tecnologia a seu favor!

A independência alimentar é algo muito difícil de se manter atualmente. A sociedade moderna desenvolveu uma enorme variedade de guloseimas às quais se é difícil resistir. São salgadinhos de milho ou de batata, barras de chocolates variadas, bolachas recheadas, bolinhos, enfim, uma infinidade de alimentos prontos para comer e que costumam ser ricos em gordura, em sal ou em açúcar, sem falar nos conservantes. O mesmo problema ocorre quando vamos fazer um lanche rápido. As lanchonetes costumam oferecer salgados geralmente fritos ou lanches repletos de queijo, maionese ou bacon, o que significa mais porções de gordura. Se formos nos deixar levar por esses tipos de alimentos, ficaremos acima do peso e abaixo dos nutrientes necessários, carentes de fibras, vitaminas e sais minerais. É claro que lanches são apetitosos. As propagandas estão tentando te convencer disso o tempo todo. Você conhece o jingle do arroz-feijão-bife-salada? Não, mas o do Big Mac você sabe na ponta da língua. Mas é disso que você quer viver? Seu corpo é constituído do que você ingere. Se você viver de porcaria, não poderá ter saúde.
Portanto, para manter-se saudável, é preciso resistir e procurar alimentar-se de forma equilibrada. Coma besteira somente de vez em quando e procure para o seu cotidiano alimentos realmente nutritivos, ao invés de meras calorias vazias. Caloria vazia só serve para engordar. E depois que engordar, não adianta recorrer a dietas milagoras: reeducação alimentar é a solução. Coma mais saladas, mais legumes cozidos, evite frituras e alimentos com açúcar. E entenda que evitar é comer pouco, o que é diferente de comer nunca.
Você pode comer de tudo um pouco. Comendo assim, você não passa vontade, mas também não exagera. É o caminho do meio. E quantas pessoas tem dificuldade de seguir o caminho do meio... Infelizmente, é grande o número de pessoas que exageram. Um grande exemplo disso é quem come em restaurante. Se é por quilo, muitas pessoas avançam na mistura e fogem da salada. Se a comida é à vontade, repetem muitas vezes até não aguentarem mais. Se observar os dois exemplos, concluirá que ambos se esqueceram de comer com equilíbrio. Devemos escolher os alimentos de forma balanceada e em quantidades que nos satisfaçam, sem exceder.
Somente através de uma dieta diária equilibrada teremos saúde hoje e garantiremos um envelhecimento com menos doenças. E, como dizem, é melhor previnir do que remediar.
Portanto, pense bem: como você se alimenta? E coma de forma consciente!

Agora, a mais difícil de todas, a que requer mais atenção, pois exerce influência nas anteriores, é a independência emocional.
Vivemos em sociedade. Sim, isto é uma fato. Dependemos do outros para viver. Sim, isto é outro fato. Não cultivo os meus alimentos, não produzo algodão, não sei tecer, nem confeccionar as roupas que uso. Não fiz o apartamento em que moro. Preciso de eletrodomésticos que não produzi, que utiliza materiais que não sei fabricar. Todos os dias, utilizo bens e serviços realizados por outras pessoas. Assim é a vida em sociedade. Porém essa dependência diária precisa de alguns limites: os individuais.
Como ser social, o ser humano sente necessidade de estar em contado com outros seres humanos. Ele precisa se sentir aceito pelos familiares e amigos e, a maioria, quer encontrar um companheiro para compartilhar a vida, enfim, quer constituir família.
Esse convívio social costuma começar na escola, quando fazemos nossos primeiros amiguinhos.
Mas é na juventude que damos o grande passo em busca da nossa individualidade. Muitos jovens, quando estão procurando formar grupos de amigos, costumam fazer coisas erradas para se sentir aceitos. Começam a fumar, beber. Muitos usam drogas. Praticam atos de vandalismo ou pequenos furtos. Realizam pequenas maldades para outros jovens, só para o grupo se divertir. E, achando que estão realizando grandes proezas, vangloriam-se de suas atitudes. Tornam-se dependentes desses amigos. A roupa, o cabelo, os acessórios, os lugares freqüentados, o modo de falar, enfim, quase tudo na vida desses jovens passa a ser ditado pelas expectativas do grupo. Geralmente há um líder, que é o modelo no qual os outros se espelham. Os anos passam, esses jovens começam a trabalhar e acabam se afastando. Neste momento, muitos não desenvolveram sua auto-estima e continuam dependendo da opinião dos outros para se sentir aceitos.
Outro dia, ouvi uma jovem olhando seu celular dizer: "Ninguém me ligou hoje. Será que se esqueceram de mim?". Para essas pessoas, digo uma coisa: desde quando receber ligação se tornou sinal de afeto? Parem, pensem! Se sentir lembrado é algo bom, mas não podemos fazer disso uma compulsão. Precisamos aprender a existir independente da opinião alheia sobre nós.
Essa dependência afetiva, quando não resolvida, vai crescendo, e a insegurança se reflete em alguma compulsão. Tem quem coma demais, quem viva em baladas (medo de ficar só?), quem se esconde atrás de uma tela, quem liga para todo mundo o tempo todo, quem compra demais, enfim, existe uma grande variedades de exageros cometidos por pessoas que, na verdade, o que realmente querem é se sentir queridas e amadas.
Qual é a solução? Dedicar-se aos seus amigos e familiares sem perder de vista a sua individualidade. Dedique um tempo para você. Faça coisas que você goste, aprenda coisas novas (um curso, por exemplo), descubra uma atividade física de que goste e pratique. Enfim, cuide-se física e psicologicamente. Invista em você! E faça apenas o que você quer, independente de moda ou opiniões alheias. Construa a sua opinião. Avalie e escolha o que é melhor para você!

E o que eu quero dizer com tudo isso? Eu quero que você pense. Reavalie a sua vida.
A independência pessoal se faz em cada atitude que tomamos de forma consciente e livre das influências externas. Conselhos são ruins? Não foi isso o que eu quiz dizer. Afinal de contas, o que estou escrevendo parece um conselho, não é? Mas perceba a diferença: não estou ditando algo. Estou pedindo que pense. Que escute o que os outros tem a dizer e que você decida. Você é a única pessoa que sabe o que é melhor para você. Mantenha-se no controle da situação.
Tudo o que é feito de maneira exagerada e em detrimento de uma melhor qualidade de vida, é ruim. Podemos fazer muitas coisas, desde que com moderação. Precisamos equilibrar nossas atitudes, de forma a agir levando em conta a complexibilidade de nossa existência e abrangendo momentos de dedicação a nós mesmos, aos amigos e aos familiares. E esse equilíbrio deve estar presente quando compramos, quando comemos, na hora de escolher o que vestir, como cuidamos da nossa saúde...

Sim, são muitos setores a serem diariamente cuidados e que, por isso mesmo, é preciso ter em mente o que é melhor para nós mesmos e não deixarmos nos influenciar pela publicidade. Por isso enfatizo tanto a importância de você se tornar independente, de você decidir por você mesmo sem se deixar levar por motivos externos. A publicidade quer que você compre (independente de você poder ou precisar), as propagandas querem te levar a comer (independente do alimento ser saudável), as revistas de moda querem ditar o que você deve vestir (independente do seu orçamento ou sequer levando em conta o seu gosto pessoal), a tecnologia (celular, video-game, internet, TV) quer se fazer irresistível (e se você deixar, adeus vida social).

Não aceite viver escravo da opinião alheia.
Não viva em função da moda.
Não viva para agradar os outros, nem para se sentir aceita ou amada.
Não se deixe prejudicar.
Viva procurando o que é melhor para você.
Faça o que você escolher, o que você decidir.
Independência pessoal, como o próprio nome diz, é algo que vem de dentro da pessoa.
Então, dê seu grito de independência e parta para a ação: a sua vida é você quem faz!

Um comentário:

Bárbara Stracke disse...

Cara, que belo texto!
Em ótima hora!

Tudo o que preciso é independência profissional.
Estou mofando aqui há quase 4 anos, servindo de capacho para um machista, morrendo de medo de sair e buscar o melhor pra mim, por pensar que não consigo algo melhor,

por medo de não conseguir aprender, de ter que começar do 0...

mas de repente, se eu não tentar, quem fará isso por mim?

Se eu me arrepender, foda-se! Afinal a vida é minha e faço ela como eu quero, neah?!

Seu texto foi mais um sinal para eu me mexer.

Agradeço!

bjz